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Baú da Fé 43 – As Antífonas do Ó

Antífona é uma resposta, geralmente cantada a salmos, hinos e outras orações dentro da liturgia. Para o Tempo do Advento, a tradição da Igreja nos presenteia com as Antífonas do Ó, também conhecidas como Antífonas Maiores. São sete orações rezadas entre 17 e 23 dezembro, antes e depois do canto do Magnificat, na hora canônica das Vésperas, no período que a liturgia chama de “preparação próxima do natal”.[1] São assim chamadas pois se iniciam com o vocativo Ó, seguidas de exaltações e súplicas dirigidas a Cristo, que resumem a teologia própria do Tempo do Advento. Em todas elas encontramos menção a um dos títulos messiânico de Nosso Senhor, presentes no Antigo Testamento.[2]

A seguir, apresentaremos a explicação de cada antífona[3]:

1ª. Ó Sabedoria (Sapientia) que saístes da boca do Altíssimo, atingindo de uma a outra extremidade e tudo dispondo com força e suavidade: Vinde ensinar-nos o caminho da prudência!

Cristo é a Sabedoria do Pai, sua Palavra criadora, que se manifesta aos homens nascida segunda a carne, concebida no seio da Virgem Maria.  Cristo-Sabedoria possui a força necessária para a luta entre a luz e as trevas que se acentua com a sua vinda.

2ª. Ó Adonai (Adonai), guia da casa de Israel, que aparecestes a Moisés na sarça ardente e lhe destes a vossa lei sobre o Sinai: Vinde salvar-nos com o braço poderoso.

Remetendo-nos ao ciclo pascal, Adonai é como Deus se manifesta a Moisés – Senhor – o que guia seu povo rumo a Terra Prometida, libertando-os de toda escravidão e morte.[4] Sua vinda está intrinsecamente ligada à sua obra salvadora.

3ª. Ó Raiz de Jessé (Radix Jesse), Ó estandarte, levantado em sinal para as nações! Ante vós se calarão os reis da terra, e as nações implorarão misericórdia: Vinde salvar-nos! Libertai-nos sem demora!

A Raiz de Jessé que Isaías nos apresenta e São Paulo cita em suas cartas, é o próprio Cristo, que assim como a Raiz é erguida como sinal para todos os povos, é Ele, também, erguido no madeiro da Cruz para a salvação da humanidade.

4ª. Ó Chave de Davi (Clavis David), Cetro da casa de Israel, que abris e ninguém fecha, que fechais e ninguém abre: Vinde logo e libertai o homem prisioneiro, que nas trevas e na sombra da morte, está sentado.

Aquele que tem as chaves tem o poder, e detém todos os direitos sobre o lugar onde as portas se abrem e fecham. Cristo possui o poder messiânico e concede o mesmo a Pedro e seus Apóstolos; é Ele também que nos abre as portas da escravidão nos levando ao caminho da Luz.

5ª. Ó Oriente (Oriens), esplendor da luz eterna e sol da justiça: Vinde e iluminai os que estão sentados nas trevas e à sombra da morte.

Esta antífona faz alusão a segunda vinda de Cristo, a vinda definitiva na qual julgará todos os povos; encontra-se em comunhão com a dupla teologia do Advento, que além de celebrar a primeira vinda, prepara-nos para a definitiva. Assim como o Sol nasce no Oriente, Cristo retornará em Sua Glória.

6ª. Ó Rei das nações (Rex gentium), desejado dos povos; Ó Pedra angular, que os opostos unis: Oh! Vinde e salvai este homem tão frágil, que um dia criastes do barro da terra.

A Pedra que os pedreiros rejeitaram, tornou-se a Pedra Angular. Jesus é a rocha firme desprezada; novamente fazemos alusão à sua Paixão redentora. A mesma pedra desprezada é o Rei que, vindo ao mundo, governa todos os povos, sem distinção, restituindo à humanidade a condição primeira.

7ª. Ó Emanuel (Emmanuel), nosso Rei Legislador, Esperança das nações e dos povos Salvador: Vinde enfim para salvar-nos, ó Senhor e nosso Deus!

Deus-Conosco! O Verbo divino, que tudo cria e salva, está entre os homens. Ele governa e dita os preceitos que o homem deve seguir: ‘Amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo!”. É a Esperança da vida eterna, de libertação.

Em seu conjunto, as antífonas são um acróstico: se tomarmos a primeira letra de cada antífona em ordem inversa no original em latim (Emmanuel, Rex, Oriens, Clavis, Radix, Adonai e Sapientia), forma-se a frase latina “ERO CRAS” (virei amanhã). Mais uma vez, as antífonas recordam a expectativa pela iminente vinda do Senhor.

Das Antífonas do Ó, surgiu a devoção popular de celebrar a Santíssima Mãe de Deus sob o Título de Nossa Senhora do Ó. Isto porque na Espanha, o arcebispo Santo Eugênio, estipulou que a festa da Anunciação fosse transferida para o dia 18 de Dezembro. Sucedido no cargo por seu sobrinho, Santo Ildefonso, este determinou, por sua vez, que essa festa se celebrasse no mesmo dia, mas com o título de Expectação do Parto da Beatíssima Virgem Maria. Pelo fato de, nas vésperas, se proferirem as antífonas maiores, iniciadas pela exclamação (ou suspiro) “Oh!”, o povo teria passado a denominar essa solenidade como Nossa Senhora do Ó.[5]

[1] Cf. Liturgia das Horas, Vol.01 Advento e Natal, dias 17 à 23 de dezembro.

[2] Cf. Antífonas do Ó: O antigo e o novo na oração litúrgica do advento. – São Paulo: Paulinas, 1997

[3] Cf. “Antífonas do Ó – Um tesouro da liturgia do Advento”, do Padre Jomar,  Revista Beneditina nrº 13, Novembro/Dezembro de 2005, editado pelas monjas beneditinas do Mosteiro da Santa Cruz – Juiz de Fora/Minas Gerais.

[4] Cf. Is 11,10 – citado em Rm 15,12

[5] Cf. http://historiadenossasenhora.blogspot.com.br/2009/12/nossa-senhora-da-expectacao-do-parto.html