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Especial Baluartes 02 – O triunfo do Bem sobre o Mal: Quem como Deus?

Criações extraordinárias de Deus; situados entre Ele e o homem hierarquicamente; puramente espirituais e incorpóreos, dotados de inteligência e de vontade; à serviço de Deus: estes são os anjos! São Miguel, como comumente se sabe, está inserido no Coro Angélico dos Arcanjos, encontrando-se nas miríades inferiores, ou seja, na hierarquia celeste[1] ele é pequeno. Todavia, ele é também prova de que é pela humildade e fidelidade que se alcança a vitória, pois apenas pelo reconhecimento da própria pequenez que é possível tornar-se grande aos olhos do Altíssimo.

Isto é explicado com breve relato do ocorrido na queda dos anjos. Quando um terço dos anjos decaiu, em seguimento às ideias de Lúcifer, foi travada uma batalha no Céu que inclusive consta do livro do Apocalipse de São João. No meio dessas lutas, houve um anjo que se destacou, não por ser superior – pelo contrário –  mas, porque o seu amor era superior. Foi São Miguel quem manteve mais viva a chama da fidelidade a Deus nos piores momentos da batalha, quando tudo estava escuro e tantos anjos estavam a se rebelar contra Deus; ele se destacou no bem e a sua fé com a luz do seu amor tão certo, iluminou a muitos que estavam confusos e arrebatou tantos outros que lutavam em favor do erro.

Foi São Miguel que no momento mais escuro, quando multidões começavam a duvidar, em meio a um silêncio geral, bradou: “Quem como Deus?!”[2]; e, no meio da dúvida, ele foi imbatível, nenhum dardo envenenado pela razão poderia penetrar a couraça de sua fé inquebrantável. São Miguel conhecia melhor a Deus que os inteligentes, porque ele amava mais, e, por isso, aqueles que iam ao seu encontro tinham que recuar.[3]

É por isso que a imagem de São Miguel o representa para nós com uma couraça. Apesar d’ele não portar nenhum material trata-se de uma couraça espiritual, impenetrável às seduções contrárias a Deus, juntamente com sua única arma: qual seja a espada da verdade, a verdade sobre Deus.

É diante desta imagem que a Comunidade Porta Fidei tem rezado em unidade nos últimos anos a quaresma de São Miguel, que nos prepara para a festa hoje celebrada, dos Santos Arcanjos, reavivando em nós a devoção e o relacionamento com os anjos que tanto nos auxiliam. Rezar mais intimamente com São Miguel nos quarenta dias antecedentes a sua festa é um meio de crescermos no amor a Deus, rogando sempre por sua intercessão protetora.

Nisso cremos, irmãos, até porque um testemunho que a Comunidade Porta Fidei pode dar é o da intercessão de São Miguel em sua história. Hoje completamos cinco anos, e não é à toa que o aniversário da comunidade é celebrado também no dia deste Arcanjo tão humilde e poderoso; ele nos conduz desde nosso nascimento. Como exemplo, atestamos a poderosa intercessão de São Miguel nos encontros de evangelização que trazem tantas batalhas espirituais, como ocorreu no Diofest este ano e em cada uma das edições do SOS, em especial a segunda edição ocorrida em 2014.

São Miguel Arcanjo é nosso amado Baluarte, nele confiamos para enfrentar as batalhas diárias com as quais nos deparamos cotidianamente. Ele é baluarte dos cristãos, é fortaleza, como afirmou São João Paulo II, em 1994, na tradicional oração do Regina Coeli[4] quando desejou que a oração nos fortalecesse para a batalha espiritual colocando nossos olhos diante da imagem de São Miguel Arcanjo, e também convidou os cristãos a não esquecer a oração a São Miguel escrita em 1884 pelo então Papa Leão XIII, contra as forças das trevas e contra o espírito deste mundo:

São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate, sede nosso refúgio contra as maldades e ciladas do demônio. Ordene-lhe Deus, instantemente o pedimos. E vós, príncipe da milícia celeste, pela virtude divina, precipitai no inferno a satanás e aos outros espíritos malignos que andam pelo mundo para perder as almas. Amém.

Muitos são os momentos em que recorremos a tão querido e admirado Arcanjo, como quando o invocamos no Retiro de Discernimento de 2014 e ele veio cheio da graça, com o coro dos anjos, proclamar para a nossa Comunidade que devemos defender a verdade e guardar a fé.

Ora, intimamente atrelado ao nosso carisma está o glorioso São Miguel. Queremos também nós, por sua intercessão, ser destemidos e, em nossas vidas particulares e também na história da Comunidade, cada vez mais nos encantarmos, alegrarmos e fortalecermos ao olhar para trás, para o presente e para o que virá, e com nosso mais sincero coração conseguirmos também bradar: Quem como Deus?!

[1] Pela Sagrada Tradição, existem nove coros de anjos, divididos em três hierarquias. A primeira hierarquia é formada pelos Serafins, Querubins e Tronos; a segunda hierarquia é constituída pelas Dominações, Potestades e Virtudes; e, por fim, a terceira hierarquia é compreendida pelos Principados, Arcanjos e Anjos.

[2] Em latim: “Quid est Deus?”

[3] José Antonio Fortea. História do mundo dos anjos (trad. Laura de Andrade). São Paulo: Palavra & Prece, 2012. p. 61-62.

[4] Trecho em espanhol: “Quiera Dios que la oración nos fortalezca para la batalla espiritual de la que habla la carta a los Efesios: «Fortaleceos en el Señor y en la fuerza de su poder» (Ef 6, 10). A esa misma batalla se refiere el libro del Apocalipsis, reviviendo ante nuestros ojos la imagen de san Miguel arcángel (cf. Ap 12, 7). Seguramente tenía muy presente esa escena el Papa León XIII cuando, al final del siglo pasado, introdujo en toda la Iglesia una oración especial a san Miguel: ‘San Miguel arcángel, defiéndenos en la batalla contra los ataques y las asechanzas del maligno; sé nuestro baluarte…’Aunque en la actualidad esa oración ya no se rece al final de la celebración eucarística, os invito a todos a no olvidarla a rezarla para obtener ayuda en la batalla contra las fuerzas de las tinieblas y contra el espíritu de este mundo.” Disponível em: http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/es/angelus/1994/documents/hf_jp-ii_reg_19940424.html

Apologética (Apresentação) – Adversus haereses

Hoje, dia 28 de junho, fazemos memória de Santo Ireneu, bispo e mártir da Igreja Católica. Poucas são as informações que temos acerca deste Padre da Igreja, contudo, é sabido que conheceu intimamente São Policarpo[1], que, por sua vez, foi discípulo de São João, apóstolo.

Seu grande mérito histórico foi ter identificado, estudado e refutado radicalmente o gnosticismo[2] e, com isto, estabeleceram-se as bases e princípios gerais para combater todas as heresias[3] dentro da Igreja nascente. Suas duas obras conhecidas[4] possuem o mesmo tema: as verdades da fé católica.

E é neste dia que nós, que fazemos a Comunidade Católica Porta Fidei, desejamos inaugurar um novo quadro em nossa página: Apologética Católica. Diante de tantas dúvidas, que surgem com a imposição, pelo mundo, de sua mentalidade relativista, queremos ser um eco da Sã Doutrina Católica e Apostólica para o mundo.

Explicando melhor… Apologética é uma palavra que tem a sua origem no grego e significa “defesa verbal”. Normalmente, quando se fala de apologética, trata-se da defesa fundamentada da religião cristã. Ensinar a doutrina da Igreja, transmitida sem descontinuidade pelos apóstolos e seus sucessores, de modo preciso e fiel, combatendo todos os erros, foi empenho ireniano e, também, é o nosso.

Estando entranhado em nosso carisma a defesa da Verdade e a guarda da Fé, é nosso intuito expor, sem especulações, sem inovações, mas guardando uma tal fidelidade aos ensinamentos de Cristo, confiados à Igreja e transmitidos através dos séculos pelo Magistério, a Doutrina de todos os tempos e a Fé autêntica do Cristão.

Ora, o primeiro e mais completo corpo de doutrina da Igreja do século foi, justamente, o ireniano, cujo objetivo maior era defender o depósito da fé contra os heréticos e expor, com clareza, aos fiéis os cânones da verdade segura.[5] Não poderia ser num dia diferente, como que pensado por Deus, para lançarmos mão deste grande desafio.

Honrando este, que foi teólogo da ortodoxia, e defendeu a verdade não apenas com a palavra, mas com a própria vida, pedimos, também, o seu auxílio para que nos guie nesta vereda.

Santo Ireneu, rogai por nós.

[1] Viveu do ano 69 ao 155 d.C. O próprio São João Evangelista o nomeou Bispo de Esmirna, cidade grega situada no litoral da Ásia Menor (hoje Izmir, na Turquia). Em seu martírio, foi posto em uma fogueira para morrer queimado. Vendo que o corpo não era consumido pelo fogo, os homens cruéis ordenaram a um carrasco transpassar Policarpo com um gládio. Quando ele o fez, saiu da chaga uma pomba e jorrou uma tal abundância de sangue que apagou o fogo.

[2] A gnose é uma espécie de conhecimento superior, adquirido de modo direto, intuitivo, das respostas de todos os problemas que angustiam a alma humana. Todos os grupos gnósticos  possuaem alguns princípios em comum: a maldade da matéria e da carne, a infelicidade do homem, prisioneiro do seu próprio corpo, a existência de uma alma inferior e manchada pelo pecado, e de uma alma superior, celestial, em suma: um dualismo crasso e errôneo.

[3] “Diz-se heresia a negação pertinaz, depois de recebido o baptismo, de alguma verdade que se deve crer com fé divina e católica” (Cf. Cân. 751 do CDC)

[4] “Contra as heresias” e “Demonstração da pregação apostólica”

[5] Cf. Adv. Haer. I, 9.4

Reflexos de Salvação 27 – Ainda não falam e já proclamam o Cristo

Antes mesmo que viessem a conhecer o Verbo Encarnado, feito Homem, muitas crianças – meninos e meninas – deram sua vida para que o Menino Deus não perecesse nas mãos do Tirano. Deus, assim, recolheu as almas destas crianças e as plantou no jardim de seu Reino.[1] Estas flores são os Santos Inocentes, que vestem a Igreja, em plena Oitava do Natal, com o vermelho, cor do sangue dos mártires, pois mesmo sem falarem, proclamaram o Cristo com suas vidas.

Os Magos do Oriente foram conduzidos até Israel pela Estrela. Ao chegarem à cidade santa de Jerusalém, foram ao encontro do Rei Herodes em busca da criança que, segundo as profecias, seria o Filho de Deus. Na presença do tirano rei, os Magos perceberam que o Messias não teria nascido ali, em meio a tanta maldade e crueldade, e partiram a buscá-lo novamente; antes, porém, Herodes pedira que, ao encontrar o Menino, os Magos retornassem para comunicá-lo do local em que também poderia adorar o verdadeiro Rei de Israel.

Conduzidos, novamente, pela Estrela, aqueles homens vindos do Oriente encontraram Maria, José e o Menino, envolto em faixas. Após presenteá-lo, deixaram o local e retornaram: contudo, perceberam que não deveriam obedecer ao Rei Herodes e, assim, nunca o disseram o local em que estava o Menino Jesus.

Herodes, após perceber que os Magos o tinham enganado, ordenou que todas as crianças com até dois anos de idade fossem mortas, pois assim imaginou que mataria também o Rei de Israel que havia nascido, e não teria seu trono ameaçado.

Estas crianças morrem pelo Cristo, sem saberem, enquanto seus pais choram os mártires que morrem. Cristo faz, de suas legítimas testemunhas, aqueles que ainda não falavam. Eis como reina aquele que veio para reinar. Eis como já começa a conceder a liberdade aquele que veio para libertar, e a dar a salvação aquele que veio para salvar.

Estes pequeninos inocentes de tenra idade, de alma pura, escreveram a primeira página do álbum de ouro dos mártires cristãos e mereceram a glória eterna segundo a promessa de Jesus. A Igreja celebra a festa dos Santos Inocentes perto da Natividade de Jesus, uma vez que tudo aconteceu após a visita dos Reis Magos. A escolha foi proposital, pois quis que os Santos Inocentes alegrassem com sua presença a manjedoura do Menino Jesus.

[1] Cf. Hino do Oficio das Leituras, Festa dos Santos Inocentes

Reflexos de Salvação 26 – Santo Estevão, o primeiro mártir

Neste dia seguinte ao Natal do Senhor, a Igreja celebra o dia de Santo Estevão, que foi descrito na Bíblia como um “homem cheio de fé e do Espírito Santo”[1]; de tão grandioso seu testemunho, há, no livro dos Atos dos Apóstolos, dois capítulos dedicados a falar sobre ele. Santo Estevão foi o primeiro mártir da história da Igreja, apedrejado até a morte por defender Jesus Cristo (para saber mais sobre o que é um mártir clique aqui).

Ele tinha sido eleito para servir os pobres e as viúvas, distribuindo-lhes alimentos, de forma que a caridade é forte marca de sua caminhada. Na verdade, ele é prova de que a caridade e o anúncio do Senhor devem estar sempre unidos, pois foi pela sua firmeza ao não deixar de lado sua missão de anunciar o Evangelho de Cristo que Santo Estevão foi massacrado e acabou sendo semente para outros santos uma vez mártir.

Conforme as Sagradas Escrituras, enquanto era apedrejado, de joelhos, Estevão “exclamou em alta voz: ‘Senhor, não lhes leves em conta este pecado…’ A estas palavras expirou”[2]. É lindo perceber que ele se espelha em Jesus, com esse pedido de perdão a Deus, que nos lembra de quando Jesus disse na cruz “Pai, perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem”[3]. Assim, temos o primeiro homem a demonstrar que nossa vida deve ser entregue sem reservas à defesa da fé, pois ao ser totalmente tomado e consumido pelo Espírito Santo, único capaz de fortalecer o cristão com sua graça a este ponto, ele conseguiu amar de forma semelhante à que Cristo nos amou.

Santo Estevão é, até hoje, exemplo para todos os cristãos; é um marco nas perseguições que sempre estão presentes na vida daqueles que decidem verdadeiramente seguir a Cristo e defender a Verdade. Ele nos ensina a permanecermos fieis ao anúncio do Salvador, e, também, a dedicarmo-nos a ter uma vida de serviço aos mais necessitados, sempre aliando ambas as missões, porque pouco é o serviço de simplesmente ser bondoso e generoso se não o fazemos para maior glória de Deus e evangelização dos nossos irmãos.

Roguemos a Santo Estevão, para que nos ajude a seguir o caminho que Jesus quer para nós, independente da aprovação, da companhia ou do prévio exemplo de qualquer pessoa, pois o Espírito Santo é de fato o único que fortalece e enche o cristão da graça divina necessária para que tenha coragem e segurança para ser firme diante das perseguições, sejam elas da forma que forem.

[1] At 6, 5

[2] At 7, 60

[3] Lc 23, 34