Um dia após celebrarmos a Igreja Triunfante, dedicamos um dia para oferecermos com maior afinco preces e súplicas pela Igreja Padecente. São muitos os que já partiram deste mundo para a Eternidade e pela nossa Fé cremos que, as nossas orações são um seguro refrigério para aqueles que em vida souberam amar a Cristo e aos seus irmãos. No fim da vida seremos julgados pelo amor, dizia São João da Cruz[1]. Quão lentos somos nós, os militantes, até agora não compreendemos o peso dos nossos pecados e não amamos a Deus totalmente. A nossa vida clama a justiça de Deus, mas Ele continua a agir com Misericórdia.
A doutrina da Igreja Católica é bem clara: aqueles que morrem distantes de Deus e de sua graça receberão por paga a manifestação da Justiça de Deus, ou seja, a condenação eterna.[2] Aos que se esforçaram, foram justos e morreram na graça de Deus, a estes será concedida a salvação eterna.[3] É claro que só Deus conhece os corações daqueles que Ele mesmo criou. Ao nos criar, Deus nos concedeu uma alma imortal: alma esta, feita para que um dia pudesse experimentar eternamente da benevolência de Deus, A eternidade feliz! Más nem todos buscam salvar-se. Hoje, a Comemoração dos Fiéis Defuntos, direciona-se a sufragar as almas que aguardam a plena visão de Deus, aqueles que por alguma negligência não reparada na vida terrena tiveram de purificar-se por um tempo determinado por Deus no Purgatório.
É esta a nossa Fé: As almas que morrem unidas ao Senhor, mas que não o amaram com todas as suas forças aqui na terra irão para o Purgatório para purificar-se e de lá sairão por meio das preces e súplicas da Igreja Militante, que somos nós.[4] A participação no Céu está garantida para as almas que lá padecem. As almas do purgatório possuem a plena certeza de verem a Deus face a face e eternamente com ele estar. As missas, orações, penitências, e tudo aquilo que a Igreja Militante oferece pela Igreja Padecente são refrigérios para as suas almas, e apressam a salvação de Deus para elas. Vale ressaltar que, as almas que sufragarmos do purgatório se tornam intercessoras nossas no céu, pois elas terão acesso direto a Deus.
O purgatório é o alvo desta comemoração, lá é um lugar temporal para pagar as penas não expiadas nesta terra. Ao longo da nossa vida cambaleamos entre a ordem e a desordem. Com nossos pecados afetamos a ordem perfeita sonhada por Deus. É claro que aqueles que buscam de coração sincero os caminhos de penitência, atraem já nesta vida para si a Misericórdia de Cristo.
A Misericórdia de Deus para as almas padecentes chega a elas através das indulgências, um tesouro gratuito da nossa Igreja. As indulgências são a própria Misericórdia de Deus diante das consequências do pecado. Nesta semana, aqueles que participam da missa, adoram o Senhor, visitam um cemitério, meditam a palavra, rezam pelo Papa, podem lucrar de uma indulgência plenária a ser oferecida por uma alma; se ela precisar apenas daquela indulgência irá imediatamente para o céu, ou então diminuirá os seus dias no Purgatório, aproximando-se assim cada vez mais da plena visão de Deus.[5]
O purgatório é um lugar de purificação garantido por Deus e provado nas escrituras[6]. No purgatório as almas se reeducam a amarem a Deus com todas as suas forças, a libertarem-se do egoísmo e do orgulho não quebrado em vida e consequentemente amar a Deus plenamente. Este dia é um dia de graça, é um dia em que a terra entra em comunhão com Deus em uma única meta: salvar as almas!
Quão louvável seria se na vida amassemos a Deus totalmente, fugíssemos do pecado como se foge do fogo. O céu é dom de Deus, nós o negamos livremente. O pecado é algo passageiro, a graça de Deus não passa. É preciso cuidar melhor das nossas almas, que são moradas de Deus, um castelo diz Santa Teresa, onde Deus escolheu para fazer morada.[7] Não a sujemos com o pecado, e se sentimos que ela está suja, cuidemos de limpá-la com Sacramento da Penitência. Tenhamos sempre em mente: Se Deus me chamasse hoje, estaria eu preparado? Se Jesus voltasse hoje, eu estaria preparado?
Nesta vida sofremos, somos tentados, caímos. As almas do purgatório não sofrem mais isto pois o demônio lá não tem autoridade; lá é plena certeza do céu. A Liturgia deste dia nos convida a uma maior vigilância, uma fuga dos pecados, até mesmo os irrelevantes. É preciso viver no mundo sem ser mundanos, já dizia um autor. Dediquemos este dia de Finados como o dia do amor em que nós amamos com as orações e sacrifícios as almas do purgatório, nossas irmãs. É claro que Deus nos quer no céu, mas é preciso um esforço contínuo. Nossa meta é o céu, é estar com todos os santos como celebrávamos ontem. Sonhemos com o céu e tragamos o céu até nós.[8]
Que as almas dos fiéis defuntos, pela Misericórdia de Deus descansem em paz!
[1] Cf. São João da Cruz, Avisos y sentencias, 57.
[2] Cf. Catecismo da Igreja Católica (CIC), nº 1033.
[3] Cf. idem, nº. 1023.
[4] Cf. idem, nº 1030.
[5] Cf. Baú da Fé 26 – Indulgências para a comemoração dos fieis defuntos, publicado em nossa página no dia 01.11.2016.
[6] Cf. 2 Mc 12, 39-45.
[7] Cf. Santa Tereza, Castelo Interior ou Moradas.
[8] Texto de autoria de Thomas Éric da C. Carvalho, seminarista do 1ª ano de Teologia da Diocese de Salgueiro – PE.