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Baú da Fé 61 – De Omnipotentia Dei

Existem diversos atributos que podemos chamar de divinos: Eternidade, Imutabilidade, Onipresença, Infinitude – todos, características essenciais do nosso Deus. No entanto, apenas uma destas condições aparece no credo e são logo as suas primeiras palavras: Deus é todo-poderoso!

Unicamente a onipotência de Deus é nomeada no símbolo apostólico. Poderíamos, de forma superficial, afirmar que o credo assim o faz pois irá falar, em seguida, da criação, obra do poder universal de Deus. Porém, deixaríamos de compreender que confessar esta onipotência é de grande alcance para a nossa vida de fé.

Podemos dizer que a onipotência de Deus é universal, amorosa e misteriosa. Universal, pois Ele tudo governa e tudo pode; amorosa, pois provém de um Pai; e misteriosa pois apenas pela fé podemos a descobrir quando ela atua plenamente na fraqueza.

Ora, se Deus tudo pode, porque Ele se faria pequeno, submisso às suas próprias criaturas, fazendo-se homem? É necessário, aqui, defender a santa estultice do amor de Deus, que não escolheu pronunciar uma palavra de força, mas percorrer o caminho da impotência, para pôr o nosso sonho de poder, tão humano, na berlinda e vencê-lo a partir de dentro.

Mesmo assim, ainda poderíamos nos questionar o porquê de Deus nos permitir participar do sofrimento, onde num simples estalar de dedos, poderia nos fazer as criaturas mais felizes do universo. Desta forma, acaso não esqueceríamos um pouco demais da conexão entre cruz e esperança, da unidade entre o Oriente e a direção da cruz, entre passado e futuro que existe no cristianismo?

Só a fé pode aderir aos caminhos misteriosos da onipotência de Deus. Esta fé gloria-se nas suas fraquezas, para atrair a si o poder de Cristo. Desta mesma fé, é modelo supremo a Virgem Maria, a toda pura que aceitou o plano sobrenatural de Deus, concebendo o salvador e o entregando a morte. Ela é, sim, espelho para os fiéis, pois acreditou que, a Deus, nada é impossível, mesmo diante da cruz, e, assim, pôde proclamar a grandeza do Senhor.

Deste modo, não seria apenas a própria criação o motivo pelo qual a onipotência é o único atributo divino nomeado no Credo, mas tudo o que seguidamente nos propõe para crer: as coisas maiores, as mais incompreensíveis, bem como as mais sublimes e mais acima das leis ordinárias da Natureza! Basta que a nossa razão tenha a ideia da onipotência divina; basta que confessemos, como Jó, que sabemos que Deus tudo pode e que, para Ele, nada é impossível, para admitirmos, facilmente e sem hesitação alguma, todas as verdades da nossa fé.

Reflexos de Salvação 56 – O Amor à Ciência Sagrada

No dia 28 de janeiro, celebramos a memória de Santo Tomás de Aquino, o Doutor Angélico. Tomás nasceu entre os anos de 1224 e 1225, nos arredores de Aquino; vinha de uma família muito nobre e rica, começou seus estudos em Montecassino e depois seguiu para Nápoles, onde se aproximou da filosofia na qual se basearia: a filosofia Aristotélica. Ainda jovem, sentiu o apelo de Deus para que se entregasse a Ordem dos pregadores, os Dominicanos; mas sua família não aceitou, pois o queriam como um Abade beneditino, que seria um cargo mais respeitado. Mesmo contrariado, Santo Tomás seguiu para Paris, onde conheceu seu mestre, Santo Alberto Magno, com o qual criou uma grande amizade e, juntos, assim como Cristo, cresceram em Sabedoria, estatura e Graça.

Desde jovem, o Boi mudo, apelido que recebera pelo seu tamanho e sobriedade, mostrou aptidões para o estudo das Ciências Sagradas, e foi nessa área que se tornou o maior pilar doutrinário da Igreja. Através da sua Suma Teológica, obra mais difundida, ficou famoso mundialmente até os tempos atuais e, com sua obra prima, a Suma contra os gentios, conseguiu servir de base sólida para o combate contra muitas heresias contemporâneas a Tomás. Porém, apesar de fruto de muitos anos de estudo, era fruto de muita confiança e intimidade com Deus. Tomás não era só um gênio, era um mestre da Mística com composições grandiosas, como o Pange Língua e o Adoro Te Devote. Para ilustrar isso, conta-nos Chesterton que um dia, na faculdade de Sorbonne, questionaram-no sobre a natureza das alterações místicas do Santíssimo Sacramento. Depois de muito pensar e orar exaustivamente sobre a questão, ele depositou sua tese ao pé do crucifixo do altar, como quem esperava um julgamento e, pôs-se a rezar novamente. Foi então que, contam-nos os frades, o Crucificado desceu da Cruz e disse “Tomás, escrevestes bem acerca do Sacramento do Meu Corpo”. O Santo entrou em êxtase e obteve a Graça do Dom da Levitação, reservada só aos grandes místicos.

Entretanto, como dito anteriormente, seus pais foram contra sua vocação dominicana. Um dia, seus pais enviaram uma moça para tentar seduzir o futuro dominicano e, numa atitude de bravura e de amor a Deus, ele pegou um braseiro quente e desenhou uma cruz de chama ardente na parede. Foi em frente a essa Cruz que o Doutor angélico renovou suas promessas de castidade e recebeu o Cíngulo das mãos do Rei do universo e de Sua Mãe Castíssima, através dessas palavras: “Viemos da parte de Deus conferir-te o dom da virgindade perpétua, que a partir de agora será irrevogável”. Era mais uma vitória de quem escolheu doar-se inteiramente a Cristo. Outro episódio esplendoroso em sua vida foi quando o Crucifixo, da Igreja de São Domingos, em Nápoles, como forma de agradecimento por tudo que o Santo havia feito, lhe ofereceu qualquer coisa. Santo Tomás não tinha interesse em bens materiais grandiosos, ele tinha sede pelos bens intelectuais, sede da sabedoria dos anjos, sede de ler um manuscrito perdido de São Crisóstomo, sede de responder antigas dúvidas, mas ali, quando podia escolher qualquer coisa, teve certeza do que queria. No Antigo Testamento, há um relato parecido, quando Deus diz a Salomão “Pede o que te devo dar” e o Rei responde: “Dá-me, pois, agora sabedoria e inteligência para que possa conduzir este povo, pois quem poderia julgar um povo tão grande como o Teu”. Diferente resposta deu o aquinante quando, vendo o Crucificado de braços abertos, exclamou a resposta de um santo grandioso: “quero apenas a Ti!”.

Portanto, que, assim como Santo Tomás, possamos santificar nossos estudos, possamos nos doar ao conhecimento da Sã Doutrina e que, frente as paixões do mundo, tenhamos a bravura para escolher o Cristo Crucificado. Assim, através do estudo poderemos, junto ao Santo, celebrar a Vitória da Verdade Encarnada frente ao mundo perdido no relativismo dos valores e da verdade.

Apologética 03 – A quem iremos nós, Senhor?

Vivemos em um mundo completamente esquecido de Deus. Se o século XX o matou, o século XXI sepultou Deus de tal forma que parece impossível tê-Lo novamente entre nós. Ideologias e falsas doutrinas corromperam a mente e o coração do homem. Os valores cristãos foram dilacerados e o que ainda restava de dignidade na sociedade também começa a ser trucidado. A guerra é de princípios e valores. A pergunta que Pedro fez ao Senhor, quando questionado se também ele não queria ir embora, mas do que antes, grita de nossos corações: A quem iremos nós? E o Senhor continua a dizer: Vinde a mim!

As manchetes que estampam nossos jornais sintetizam bem o que vivemos: o aborto sendo permitido em várias formas – a vida humana deixa de ser um bem intocável e passa a ser deleite da vontade de mentes desequilibradas. A família tradicional não pode mais existir – homem e mulher não podem mais se amar pois a cultura gayzista impôs uma nova modalidade de família. A benção de numerosos filhos parece loucura – o dinheiro e o bem-estar do casal valem mais do que qualquer outra coisa. Não existe mais espaço para a Igreja, para os valores cristãos: o material e o perecível é mais importante do que tudo. A morte domina tão intensamente a sociedade que a inversão de valores é gritante.

Dentro da própria Igreja, almas que nunca experimentaram o amor de Deus e não são capazes de compreender a Verdade, insistem em tentar impor as suas convicções: movimentos de “católicos“ que apoiam e defendem o aborto; “fiéis católicas“ que apoiam e defendem o feminismo e a cultura gay; grupos que apoiam partidos e movimentos de esquerda e os defendem de forma intransigente, usando o Evangelho para defender aqueles que há décadas tentam apagar as Sagradas Letras. Pobres miseráveis, que nada são e significam diante do gigantesco colosso de santidade e de verdade que é a Santa Igreja Católica.

O resumo da ópera: tiraram Deus do mundo e agora querem O tirar da sua própria Igreja.

Enquanto isto, o próprio mundo clama por paz, por esperança, por justiça. Choram os pobres, os marginalizados e os injustiçados socialmente. Choram as guerras e os genocídios. A rejeição a Deus pelo mundo contemporâneo leva à rejeição do outro, principalmente dos mais vulneráveis, já alertava Bento XVI durante seu pontificado. Dizia o amado Pontífice que não é verdade que o “não” a Deus restabeleceria a paz. Se a luz de Deus se apaga, se extingue também a dignidade divina do homem”.

Apesar de tudo isto continuamos a ter somente uma pessoa a quem ir: Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele que é a Verdade revelada, conhece profundamente o coração do homem – só Ele conhece; e vem ao nosso encontro nos conduzir diante desta escuridão que paira sobre a humanidade. Continua nosso Redentor a ser o caminho seguro que desponta para seus filhos que permanecem fiéis às suas palavras e aos seus ensinamentos. Continuam a guiar a sua Igreja e a separar o joio do trigo.

É urgente que, assim como Pedro, façamos esta profissão de Fé. É urgente falar de Deus ao mundo, para que se reconheça novamente aquele que tem palavras de vida e amor; paz e esperança; aquele que é a Salvação do homem.

É preciso que a humanidade reconheça que Deus permanece a guia-la. Pela Igreja, Ele nos acaricia e nos mima como filhos prediletos: nos dá santos pastores; inspira grupos e movimentos de jovens que desejam a fidelidade ã Tradição, ao Magistério e às Sagradas Escrituras; faz nascer novas comunidades de vida, onde aqueles que ali escolhem viver renunciam tudo por Cristo. Pelos sacramentos, Ele renova no coração do homem a santidade indelével para qual fora chamado, e faz com que mais e mais fiéis sintam a necessidade dessa via espiritual.

O Espírito suscita crianças, jovens e casais a testemunharem e irem contra a corrente, a mostrar que aquilo que é loucura para mundo vazio de Deus é razão de viver para os que estão preenchidos da Trindade. Cristo está vivo entre nós e um dia Ele voltará: bem-aventurados os que permanecem fiéis e resistem as investidas do demônio sobre a face da terra, pois eles verão verdadeiramente o Senhor ainda neste mundo. Recordemos que só temos a Cristo. Recordemos a quem devemos ir. O mundo pode mudar, percorrendo a sua órbita; no entanto, a Cruz permanece intacta!

Baú da Fé 50 – O Tesouro de Amor do Coração de Jesus

A Solenidade do Sagrado Coração de Jesus ocupa lugar na sexta-feira depois da Oitava de Corpus Christi[1] e, esta devoção, é tão forte quanto a do Imaculado Coração de Maria, celebrado no dia seguinte. Diferentemente do que se pode pensar, o Sagrado Coração de Jesus não é uma criação artística humana; mas, na verdade, uma Revelação feita pelo próprio Jesus Cristo a Santa Margarida Maria Alacoque[2].

Santa Margarida estava em adoração diante do Santíssimo Sacramento quando Jesus lhe apareceu pedindo para que ela divulgasse esta devoção. A Santa chegou, inclusive, a formar uma equipe de apóstolos com intuito de propagasse essa piedosa devoção. Portanto, em se tratando de uma imagem de origem divina, ela tem significados maravilhosos e profundos.

A espiritualidade do Sagrado Coração aparece em dois momentos distintos no evangelho: o gesto de São João, discípulo amado, encostando a sua cabeça em Jesus durante a última ceia[3]; e na cruz, onde o soldado abriu o lado de Jesus com uma lança[4]. Naquele, temos o consolo pela dor da véspera de sua morte; neste, o sofrimento causado pelos pecados da humanidade.

No evangelho, vemos que os soldados “ao se aproximarem de Jesus, e vendo que já estava morto, não Lhe quebraram as pernas; mas um soldado abriu-Lhe o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água[5]. O ato de quebrar as pernas dos crucificados era costume entre os romanos para que a agonia não fosse muito longa, e assim foi feito com os dois ladrões; mas, percebendo que Jesus já estava morto e que, de acordo com a lei romana, era preciso ter a certeza da morte antes de retirar da cruz, um soldado transpassou o lado de Jesus com sua lança, de onde imediatamente jorraram sangue e água[6] numa derradeira manifestação da misericórdia de Deus por nós.

Não há, portanto, meio melhor de adorar o Pai, o Filho e o Espírito Santo do que através do Coração de Jesus, que é o tabernáculo mais autêntico e substancial das três Pessoas da Santíssima Trindade. Deus nos amou de modo incalculável muito antes de dar-nos a existência. Considerando o mundo dos possíveis divinos, Ele escolheu a cada um de nós em particular, tendo-nos presente em sua Redenção.

Ora, sendo Deus o Supremo Bem, ao amar um ser, projeta sobre ele algo de sua Suma Bondade, pois “o amor de Deus infunde e cria a bondade nas coisas”[7]. Assim, foi dado a cada criatura humana o dom de refletir algumas das infinitas perfeições d’Ele de um modo irrepetível, inconfundível e próprio. E toda a vida espiritual da pessoa vai se ordenar com base nessa dádiva concedida por Deus para capacitá-la a, de alguma maneira, contemplá-Lo e espelhá-Lo já nesta Terra.

Na aparição a Santa Margarida, Jesus lhe disse: “Eis o Coração que tanto amou os homens, que nada poupou, até se esgotar e se consumir para lhes testemunhar seu amor. Como reconhecimento, não recebo da maior parte deles senão ingratidões, pelas suas irreverências, sacrilégios, e pela tibieza e desprezo que têm para comigo na Eucaristia. Entretanto, o que Me é mais sensível é que há corações consagrados que agem assim”.

Ainda hoje, inúmeras vezes ferimos e ultrajamos o Sagrado Coração com nossas ações e pecados e presenciamos as mais diversas manifestações pelo mundo que O ferem gravemente. Seja por nossas quedas diárias em pecados que para nós são de grande proporção; ou até mesmo, nos míseros pecados veniais. Ainda assim, torna-se impossível deixarmos de nos sentir amados por Deus. Mesmo após termos rolado na lama do pecado, podemos contar com os infinitos méritos obtidos pelo Sacratíssimo Coração de Jesus durante sua Paixão, certos de que Ele tudo fará para nos resgatar.

Nossas misérias oferecem ao Coração de Jesus oportunidade de manifestar sua infinita bondade e seu incomensurável desejo de perdoar, redundando tudo em maior glória para Deus. Devemos, pois, nos encher de confiança e afastar a menor incerteza em relação ao amor do Criador por nós. Mas precisamos, sobretudo, ter um desejo ardente de nos entregar plenamente nas mãos da Divina Providência, sem jamais pensar em obter qualquer benefício pessoal desligado da Glória do Altíssimo.

Diante disso, que possamos reconhecer nossa fraquezas diante do Nosso Senhor Jesus Cristo, mas sempre com a certeza do seu Infinito Amor e Infinita Misericórdia, que nos querem sempre junto a Ele. Que possamos enxergar as grandes Graças alcançadas através desta Devoção, para assim chegarmos a uma união sagrada com Deus, amando-O como Ele nos ama.

[1] Foi um pedido feito pelo próprio Jesus em uma de duas aparições a Santa Margarida em 1675: “Eis este coração que tanto tem amado os homens. Não recebo da maior parte senão ingratidões, desprezos, ultrajes, sacrilégios e indiferenças. Eis que te peço que a primeira sexta-feira depois da oitava do Santíssimo Sacramento (Corpo de Deus) seja dedicada a uma festa especial para honrar o Meu coração, comungando, neste dia, e dando-lhe a devida reparação por meio de um ato de desagravo para reparar as indignidades que recebeu durante o tempo em que esteve exposto sobre os altares. Prometo-te que o Meu Coração se dilatará para derramar com abundância as influências de Seu divino amor sobre os que tributem essa divina honra e que procurem que ela lhe seja prestada.”

[2] Verosvres, 22 de Agosto de 1647 – Paray-le-Monial, 17 de Outubro de 1690, foi uma Monja Visitandina. Sua festa ocupa espaço no calendário universal à 16 de outubro.

[3] Cf. Jo 13,23

[4] Cf. Jo 19,34

[5] Jo 19, 33-34.

[6] A Tradição sempre viu neste sinal o sacramento do Batismo e da Eucaristia, os dois pilares da Igreja e, desta forma, veem também nesta cena o nascimento da Igreja. São sinais da Misericórdia e do amor de Deus pelos homens.

[7] Cf. Suma Teológica, Santo Tomás de Aquino., lição, questão 20, artigo 2, co.

Moral Católica (Apresentação) – O que é a Moral Católica?

Moral pode ser entendida, de forma bem objetiva, como um conjunto de regras, costumes e normas presentes em uma sociedade, edificadas a partir da cultura, educação e dos laços familiares, tendo como núcleo central aquilo que é bom em desfavor do que é impróprio para o homem em sua existência; e também como a intenção, que nasce do íntimo do ser, em agir com suas próprias vontades. Vem do latim moralis, que por sua vez é a tradução do grego êthica. A moral católica é justamente todo este conceito, pautado à luz dos ensinamentos de Jesus Cristo, tendo como fonte originária o seu Evangelho, sendo assim a base do comportamento de todo cristão.

“A moral católica não se reduz a um mero código de prescrições e proibições ensinado pela Igreja a fim de manter as pessoas obedientes em detrimento da sua liberdade. Ela procura, sobretudo, responder ao anseio do coração humano pela verdade e o bem, oferecendo um roteiro que, quando seguido, faz essa aspiração crescer e fortalecer-se sob a luz do Evangelho. A moral católica não é opressiva por natureza nem conservadora por princípio: ela busca educar para o crescimento. Esta é a sua verdadeira missão.”[1]

Diz o Catecismo da Igreja Católica, que a Lei Moral é uma pedagogia de Deus, ensinando aos homens o caminho e as regras de procedimento que os levam à bem-aventurança prometida e lhes proíbem os caminhos do mal, que desviam de Deus e do seu amor.[2]

Mas para crer nisto e viver com alegria a Moral é preciso ter fé; crer em Deus e no seu amor por nós e acreditar na Igreja católica como porta voz de Jesus Cristo. A Igreja recebeu, de Nosso Senhor, a infalibilidade em matéria de doutrina, em que se inclui a fé e a moral, tornando-se assim um sacramento vivo de salvação. Por ela, Jesus continua salvando todos os homens em todos os lugares e tempo, conduzindo-os pela Verdade transmitida. Não por menos, São Paulo disse a São Timóteo que “a Igreja é a coluna e o fundamento (alicerce) da verdade”,[3] e que Deus quer que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da Verdade[4].

A Igreja encontra todo o fundamento da Moral nos Evangelhos, revelados por Cristo e confiados aos Apóstolos. Nas palavras escritas séculos atrás e que se perpetuam até hoje, encontramos todo o fundamento de nossas vidas, como devemos agir e nos portar; como devemos imitar a Cristo a fim de que cheguemos à contemplação do Eterno; a fim de realizarmos nossa vocação suprema que é a santidade.

A Moral Católica não muda ao sabor da vontade dos homens e nem com o passar do tempo, porque a Verdade não muda, seja ela qual for. O teorema de Pitágoras e o princípio do empuxo, de Arquimedes, são os mesmos que esses gregos descobriram vários séculos antes de Cristo. A verdade que foi revogada, nunca foi verdade; pois a verdade de fato não pode mudar. Cristo não nos deixou uma moral transitória, passageira, provisória; não, Ele nos deixou uma Verdade eterna. Ele mesmo é a Verdade.

Com o intuito de que possamos conhecer mais a fundo a moral católica em suas várias dimensões, começamos hoje este novo espaço, intitulado Moral Católica. Abordaremos diversas temáticas que estão presentes na vida do fiel católico e que devem ser compreendidas à luz da doutrina da Santa Igreja em sua vertente moralista. O objetivo único deste espaço é permitir que os nossos leitores alcancem o fim maior de nossa peregrinação: a santidade em Deus.

[1] Cf. A Moral Católica – Servais Pinckaers. Ed. Quadrante

[2] Cf. CIC. n. 1950

[3] Cf. 1Tm 3,15

[4] Cf. 1Tm 2,4