Tendo visto a importância fundamental da “reflexão” no agir do prudente, agora é necessário adentrarmos no seu segundo ato formal: o juízo moral. Talvez nesses termos seja difícil compreender, mas, de forma muito prática podemos nos questionar “quem vai dizer qual é o nosso verdadeiro bem?”.
Rapidamente, nós, que buscamos fazer a vontade do Senhor, poderíamos responder: Deus. Mas, se observarmos bem as decisões tomadas do nosso dia a dia, perceberemos que a sentença, stricto sensu, não vem d’Ele. No final das contas, nós mesmos somos os primeiros juízes de nossas ações… é a nossa própria consciência quem julga se o que fizemos ou faremos é bom ou mal. Todavia atentemos: isso não quer dizer que o nosso juízo é justo[1]. Parece paradoxal, mas não se preocupe… Veremos tudo isso muito em breve. Por ora, recorramos novamente ao catecismo[2] para entendermos bem o que é, exatamente, a consciência.
“A consciência moral é um julgamento da razão pelo qual a pessoa humana reconhece a qualidade moral de um ato concreto que vai planejar, que está a ponto de executar ou que já praticou”.
Podemos perceber, facilmente, que a consciência é a juíza dos nossos atos, mas, assim como os juízes do mundo são passíveis de erros – por falta de estudo, pela equivocada interpretação de uma lei, ou tantos outros motivos – a nossa consciência, se não for devidamente iluminada, também pode julgar equivocadamente o que é bom do que é mal.
A nossa consciência não “cria” a bondade dos nossos atos. Não é porque julgamos ter feito o bem que efetivamente o fizemos. Em outras palavras, há uma verdade objetiva com a qual devemos confrontar as nossas ações e julgamentos, mas muitos pensam que basta que a “sua consciência” aprove algo para que isso fique sendo certo. Transformam assim a sua “convicção” subjetiva, não autenticada pela Verdade, num “deus” que sempre acerta e que deve ser acatado contra tudo e contra todos.[3]
Assim, viramos reféns de nossas próprias consciências, do subjetivismo, do politicamente correto, das ideologias… e caímos no pecado de nossos pais. Só a consciência bem formada “formula seus julgamentos segundo a razão, de acordo com o bem verdadeiro querido pela sabedoria do Criador”[4].
Então como educar a nossa consciência? Vejamos, novamente, o que diz o Catecismo[5]:
- Leitura e meditação frequente da Palavra de Deus;
- Exame de consciência diário;
- Pedir sempre a assistência do Espírito Santo;
- A direção espiritual e o testemunho dos irmãos;
- Estudo da sã doutrina católica;
Em 1833, o futuro cardeal Newman, cada vez mais próximo da sua conversão ao catolicismo, escreveu o seguinte verso: “Eu antes gostava de escolher e compreender o meu caminho. Agora, pelo contrário, eu oro: Senhor, guia-me Tu”.
Bento XVI, em uma conferência sobre “Consciência e Verdade” comentava essa atitude: “O específico do ser humano, enquanto ser humano, não consiste em interrogar-se a si mesmo sobre o “poder” [o que eu posso fazer], mas sobre o “dever” como abertura da alma à voz da verdade e das suas exigências […]. O jugo da verdade é “leve” (Mt 11,30), dado que a Verdade – Jesus – veio, amou-nos e queimou as nossas culpas no seu amor. Só quando conhecemos isso e o experimentamos interiormente é que somos livres pra escutar com alegria e sem ansiedade a mensagem da consciência”[6]
Que os juízos da nossa consciência sejam sempre retos, e possamos cantar com o salmista[7]:
Concedei a vosso servo esta graça: que eu viva guardando vossas palavras.
Abri meus olhos, para que veja as maravilhas de vossa Lei.
Peregrino sou na terra, não me oculteis os vossos mandamentos.
Consome-se minha alma no desejo perpétuo de observar vossos decretos.
Repreendestes os soberbos; malditos os que se apartam de vossos mandamentos.
Livrai-me do opróbrio e do desprezo, pois observo as vossas ordens.
Mesmo que os príncipes conspirem contra mim, vosso servo meditará em vossas leis.
Vossos preceitos são minhas delícias, meus conselheiros são as vossas leis.
[1] CIC 1786 – “Colocada diante de uma escolha moral, a consciência pode emitir um julgamento correto de acordo com a razão e a lei divina ou, ao contrário, um julgamento errôneo que se afasta delas”
[2] CIC 1778
[3] Pe. Faus, A virtude da prudência – a arte de decidir bem.
[4] CIC 1783
[5] CIC 1785
[6] Conferência sobre “Consciência e Verdade”, de 17/02/2013,
[7] Sl 118, 17-24