Especial Quaresma 25 – A Queda do Homem – Parte III: O Pecado Mancha a Criação

O pecado entra no mundo pelo homem mediante uma tentação aceita; o demônio, representado pela serpente, provoca a desconfiança do homem em Deus, se utilizando da enganação, porque nele não há verdade: quando ele mente, fala do que lhe é próprio14. Dessa forma, após a sedução mentirosa da serpente, toda história humana fica marcada pelo pecado original cometido livremente pelos nossos primeiros pais.

Ao lermos o relato do paraíso, vemos que a primeira atitude dos nossos primeiros pais após terem descumprido o mandamento do Criador é que abrem os olhos e, ao perceberem que estão nus, se cobrem com folhas. Nesse momento, a concupiscência entra no mundo. Onde antes o homem possuía uma perfeita harmonia consigo mesmo, há um domínio da alma sobre o corpo; agora o corpo tem as vontades acentuadas.

Mostra-se a primeira desconformidade, a desordem do homem consigo mesmo, pois não mais existia o domínio interior. Logo depois, quando Nosso Senhor pergunta o havia acontecido, Adão prontamente responde que Eva o fez comer do fruto e já é possível observar uma acusação. Então a união entre o homem e a mulher se torna submetida a tensões; suas relações serão marcadas pela cupidez e pela dominação15. É a partir disso que surge uma ambição de ser autoridade, de controlar o outro. Essa ganância é o segundo desalinho, a desordem do homem com a mulher. A harmonia com a criação está rompida. O domínio equilibrado, benéfico e salutar do homem começou a ser desafeiçoado, a criação visível tornou-se hostil, para ele e a humanidade se torna escrava do pecado. E, ainda, ocorre a consequência explicitamente decretada por Deus, quando declara que “tu és pó e ao pó hás de voltar16. O homem passa a ser mortal após o pecado original. Foi por inveja do diabo que a morte entrou no mundo17. Adão e Eva, tendo cometido o pecado original, rompem a comunhão com Deus. Perdem o dom sobrenatural da graça santificante, e em razão disso, perdem igualmente todos os dons preternaturais. Sem a graça não há estado de justiça original, consequentemente as dimensões da vida do homem não poderiam ser fortalecidas. Entram a morte, a concupiscência, a dor e o sofrimento, a necessidade de um esforço teórico, pois somos submetidos à ignorância (tudo como resultado da perda dos dons preternaturais). Em decorrência do ato de desobediência dos nossos primeiros pais, toda a humanidade recebe a herança negativa.

Em Adão, todo gênero humano é sicut unum corpus unis hominis, ou seja, como um só corpo de um único homem. Todavia, é importante entendermos de forma clara que, o pecado original cometido por Adão e Eva foi um ato – pecado original originante – livremente praticado. Eles cometeram um pecado pessoal, mas esse pecado afeta a natureza humana, uma marca que eles vão transmitir num estado decaído.

Em virtude desse ato, a humanidade sofrerá com uma série de consequências, e entre elas está o também chamado pecado original. No entanto, este não se trata de um ato, mas de um estado; não é algo que foi cometido e sim contraído18 – pecado original originado. A natureza humana é danificada, embora não tenha ficado essencialmente corrompida. O estado de pecado original nos traz, por primeiro, uma inclinação para o mal (concupiscência). “Quando o homem olha para dentro do próprio coração, descobre-se inclinado também para o mal, e imerso em muitos males, que não podem provir de seu Criador, que é bom19.

O sacramento do Batismo perdoa o pecado original, mas as consequências permanecem. Portanto, nos encontramos em um estado de natureza decaída, e por isso precisamos nos trabalhar. Buscando a Deus por meio da oração, da prática das virtudes, de penitências… e, em nossa miséria, almejar a santidade.


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