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Especial Quaresma 21 – A Criação: …e Deus viu que tudo era bom!

E Deus viu que era bom! Tudo era perfeito, tudo estava em harmonia. O Homem era perfeito: imagem do seu Criador. Nesta continuação do Especial Quaresmal, vamos entender como era o homem antes da queda e como tudo começou a mudar….


À medida que nos debruçamos sobre o mistério da Criação do mundo e do homem, podemos perceber que o Senhor cria tudo porque quer e porque ama. E cada coisa é criada num dia diferente, seguindo uma intrigante ordem para cada uma de suas criações: o céu, a terra, a água, as plantas, os animais e por fim, o homem.

Foi num momento de explosão de Amor, do mais genuíno Amor, que A Santíssima Trindade criou o homem à sua imagem e semelhança[1], essa foi a primeira ação documentada da Trindade Santa. Sendo assim, confiando a Sua imagem e semelhança a este mesmo homem e o tornou capaz de amar a Deus, amar a si próprio e amar ao próximo e entregou-o toda a Sua criação.

O Catecismo da Igreja Católica nos diz que Deus na sua infinita sabedoria cria o homem ‘à imagem do Deus invisível’ onde sua inteligência participa da luz do intelecto divino. Por este motivo, sem grande esforço, o homem pode com um espírito de humildade e de respeito perceber a existência do Criador e de sua obra pelo seu intelecto e por sua inteligência ontológica. Toda criação tem como origem a bondade divina e ela participa também dessa bondade.[2]

O mais importante a ser extraído desta lição do CIC é que a inteligência humana é iluminada pela luz da Inteligência divina e isso nos capacita a perceber a existência de Deus em toda a criação. Com isso, o homem se torna o Senhor de todo ser criado e deve se colocar totalmente a serviço de Deus e de Sua Santa Vontade.

Através desse seu intelecto, o homem é capaz de conhecer a voz do criador que o inspira a fazer o bem e evitar o mal. Foi para isso que fomos criados, para sermos perfeitos como quem nos criou, para sermos tão benevolentes como quem nos criou. O desejo de felicidade do homem é algo presente desde os tempos da criação. Essa felicidade só é realmente encontrada quando nos encontramos com o Amor, ou seja, com o próprio Deus; pois fomos criados para amar de uma maneira perfeita sem a necessidade de uma reciprocidade, fomos criados para amar na essencialidade do amor, muito diferente do que vemos o mundo pregando nos dias de hoje que para amar é preciso ser recíproco para valer a pena e não foi para este amor que fomos criados, fomos criados para amar como Aquele que nos criou.

Antes do pecado original tudo vivia em perfeita harmonia entre criador e criação, era uma comunhão tão perfeita que para o homem amar a Deus e aos outros não lhe custava e não lhe demandava nada. Esta comunhão era de forma tal que o Senhor passeava pelo jardim do éden à hora da brisa da tarde para encontrar-se com a sua criação.

Estes foram tempos em que o homem vivia em plenitude junto a Deus, onde não existia pecado, não existia a ausência de Deus nem por um milésimo de segundo, onde o Amar era o real e inquestionável sentido da vida e além de tudo isso, Deus nos deu a liberdade como maior presente. Esta liberdade foi muito bem utilizada para cumprir o dever ao qual o homem foi criado, até que por desobediência a usamos para ferir o nosso Criador.


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[1] Cf. (Gn 1, 26).

[2] Cf. CIC § 299.

Buscando a Verdade 07 – Os animais têm alma?

Para respondermos a esta pergunta, primeiramente precisamos entender e bem definir o conceito em questão. A alma, de forma mais ampla, é o princípio vital que anima os seres vivos. A palavra alma deriva-se do latim “anima”. Assim sendo, é claro que o ser vivo não é apenas um aglomerado orgânico de substâncias. Contudo, quando falamos de alma, em sentido estrito, estamos falando da alma humana. Esta palavra designa, muitas vezes, nas Sagradas Escrituras, a própria vida humana, ou a pessoa humana no seu todo. Assinala, também, o que há de mais íntimo no homem e de maior valor na sua pessoa, aquilo que particularmente faz dele imagem de Deus: alma significa, portanto, o princípio espiritual no homem.[1] Neste sentido, resta claro que os animais não têm alma.

Contudo, para melhor compreendermos o tema, vamos aprofundar um pouco no conceito de princípio vital. Segundo São Tomás de Aquino,[2] existem três tipos, quais sejam:

  • Vida vegetativa – que compreende as propriedades básicas de nutrição, crescimento, reprodução e irritabilidade;
  • Vida sensitiva – que, além da “vida vegetativa”, é capaz de conhecer por meio dos sentidos orgânicos (externos e internos) objetos concretos, materiais tais como cor, som, odor, gosto, temperatura, rigidez, dureza, etc;
  • Vida intelectiva – que além da “vida vegetativa e sensitiva” é dotada do conhecimento das essências, das noções universais abstratas. (noção universal da beleza, da justiça, do amor, da bondade, etc);

Entendendo estes conceitos, já começamos a compreender esta grande diferença. Todavia, esta não é a maior distância entre nós. A alma é a forma metafísica do homem. Dizer que os animais têm “alma” leva a aceitar que não existe diferença metafísica entre o homem e os animais. Consequentemente, cai-se no materialismo crasso.

A alma humana é espiritual, intelectual, transcendental e imortal. Dotada de uma alma espiritual e imortal a pessoa humana é “a única criatura sobre a tema querida por Deus por si mesma”.[3] A imagem divina está presente, assim, em cada homem.

Entretanto, somos chamados, como católicos, a respeitarmos a integridade da criação divina. Os animais são criaturas de Deus. Por isso, os homens devem estimá-los. É de lembrar com que delicadeza os santos, como São Francisco de Assis ou São Filipe de Néri, tratavam os animais. É contrário à dignidade humana fazer sofrer inutilmente os animais e dispor indiscriminadamente das suas vidas. No entanto, fica uma alerta: é igualmente indigno gastar com eles somas que deveriam, prioritariamente, aliviar a miséria dos homens. Pode-se amar os animais, mas não deveria desviar-se para eles o afeto só devido às pessoas.[4]

[1] Catecismo da Igreja Católica, 363

[2] Tomás de Aquino, II Cont. Gent., cap.LVIII; De Pot., q.3, a. 9, ad 9; De Spirit. Creat., a. 3; Qu. De Anima, a. 2

[3] II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et spes, 24: AAS 58 (1966) 1045

[4] Catecismo da Igreja Católica, 2416-2418