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Curtinhas da Fé 11 – Tempo da Septuagésima: Preparação para a Quaresma

Na organização do tempo litúrgico na forma Extraordinária do Rito Romano[1], existe um Tempo Litúrgico chamado de Septuagésima. Este tempo corresponde a uma preparação para a Quaresma. É um período de transição entre o Tempo do Natal e o período depois da Epifania para o período de preparação intensa para a Páscoa do Senhor. Apesar de não existir mais na forma Ordinária, conheça algumas características:

  1. Septuagésima é o domingo que está a 70 dias da Páscoa. Os outros dois domingos são chamado de Sexagésima e Quinquagésima; este último, é o anterior a quarta-feira de cinzas, ou seja, o domingo de carnaval.
  2. A grande teologia deste tempo se manifesta em três pontos principais tratados ao longo dos domingos: a criação, elevação e queda do homem. Entendendo esta cronologia, entendemos melhor que na Quaresma somos convidados a refletir sobre a miséria do homem caído que é purificado e elevado à condição de Filho de Deus por Cristo em sua Paixão e Ressurreição.
  3. Este Tempo não é propriamente um Tempo de austeridade, penitência e jejum como a Quaresma. Na verdade, é um tempo em que estas práticas começam a ser, aos poucos, inseridas na vida dos fiéis, ao longo dos domingos, para que eles possam chegar ao início da Quaresma envolvidos com a espiritualidade própria deste período e melhor recebam seus frutos.
  4. Sua cor litúrgica é o Roxo. Ao longo dos domingos, alguns elementos começam a ser retirados: flores vão ganhando menos espaço; no canto passa a ter menos variedade de instrumentos. O Glória e o Aleluia deixam de ser rezados.
  5. O jejum e a abstinência de carne começam a ser inserido. Já vivido mas não de forma obrigatória como na Quaresma.[2]

[1] A Forma Extraordinária do Rito Romano é como Bento XVI denominou a Missa Tridentina ou Missa de Paulo V; ou ainda, como conhecida popularmente, o Rito Antigo; para diferenciar da Missa de Paulo VI que passou a ser denominada de Forma Ordinária do Rito Romano. Estas disposições se encontram no documento Summorum Pontificum.

[2] Na disposição antiga, todo o Tempo da Quaresma é tempo obrigatório de jejum e abstinência de carne.

Especial Quaresma 09 – Tempo da Paixão: a morte do Senhor está próxima!

A proximidade da Paixão do Senhor impulsiona a Sagrada Liturgia a imergir, de forma mais intensa, os fiéis neste mistério tão sublime, trazendo a concretude do sofrimento do Senhor para suas vidas. Assim, associando-os ao percurso doloroso do Cristo rumo ao madeiro da Cruz, desejou a Romana Igreja instituir, desde seus primórdios (no século VII), o Tempo Litúrgico da Paixão do Senhor nas duas últimas semanas da Quaresma, antes da celebração do Sacro Tríduo.

Este período se inicia com o Primeiro Domingo da Paixão ou Repus[1] (5º da Quaresma) e se estende até a Quinta-Feira Santa, antes da Ceia do Senhor. Tem como cor litúrgica o Roxo e possui prefácios próprios: os da Paixão. Acentua o caráter austero da Quaresma; cobrem-se as imagens com um véu roxo e os crucifixos. A Semana Santa toma conta na segunda semana deste tempo, e se inicia com o Segundo Domingo da Paixão e Ramos. [2]

Na atual disciplina litúrgica, houve a abolição deste período como Tempo Litúrgico, tendo sido inserido no da Quaresma, mantendo-se apenas o Segundo Domingo da Paixão, que hoje é conhecido como Domingo de Ramos, mas permanece sendo o domingo da Paixão. Mesmo abolido, a essência deste tempo continua viva e atual, e merece nossa atenção a fim de crescermos ainda mais espiritualmente para os mistérios de nossa redenção que logo mais celebraremos.

O longo retiro Quaresmal vai se aproximando de seu fim, centralizando-nos no grande combate que conseguiu arrancar o homem das trevas do pecado! Numa análise dogmática, este tempo revive a cena do Calvário, torna explícito o ódio e as conjurações dos judeus, que procuram matar a Jesus. Na Quinta-Feira Santa, a instituição da Eucaristia e do Sacerdócio, efetuada na última Ceia são recordados. Celebram-se os mistérios dolorosos da Paixão e Morte de Jesus Cristo, que revelam o seu infinito amor por nós.[3]

Nossas penitencias e sacrifícios, jejuns e orações, adquirem ainda mais sentido quando nos permitimos inebriarmo-nos pela mística que emana da liturgia nestes dias, pois a eficácia destas práticas só se dá quando unidas à Paixão d’Aquele que tomou sobre Si os pecados do mundo e os expiou.  Cristo avoca para sim todas as nossas culpas, faz-se único culpado e por este motivo, voluntariamente, entrega-se para a morte: “Fez-se pecado por nós para carregar sobre seus ombros o fardo de nossos pecados até o alto da Cruz.” Mas, ao mesmo tempo, na amorosa dualidade deste mistério, imolado vive e triunfa e arranca-nos de uma vez por toda do poder do demônio.

Podemos contemplar, nestes dias finais, Jesus que começa a se despedir de seus apóstolos: Eu parto e vós me procurareis![4]. Na semana que sucede o 5º Domingo da Quaresma, somos inseridos pela liturgia nas palavras do evangelista São João, que nos narra os últimos discursos de Jesus com o povo judeu antes dos acontecimentos finais. Estamos diante de uma dualidade: várias pessoas que escutam as palavras de Cristo e contemplam seus sinais, como a Ressurreição de Lázaro; e várias outras, as autoridades dos Judeus, querendo matar Jesus.

Vai-se, portanto, desenrolando a trama para matar Jesus. Somos colocados diante da conspiração feita pelas autoridades, que se sentem ameaçadas pela presença do Cristo entre eles: é o poder das trevas que começa a tomar conta do mundo. Este cenário vai se intensificar na Semana Santa, após a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, quando Judas negocia seu Mestre por trinta moedas de prata.

Cada vez mais próximos da Páscoa do Senhor, devemos nos unir ainda mais à Liturgia da Igreja, em seus textos e orações, pois ela é preparada especialmente para nós, como instrumento maior de catequese e espiritualidade. É o Tempo da Paixão do Senhor, no qual devemos estar lado a lado com o Cristo que sofre e deseja nossa consolação e reparação.

[1] Repus = Escondido. No texto ‘’A Morte da Liturgia” existe uma exposição dogmática acerca deste tema.

[2] Rubricas para a Forma Extraordinária do Rito Romano – Missal Romano Cotidiano, Editora Bíblica Bruges – Bélgica, 1963. Pag. 294

[3] Cf. Missal Romano Cotidiano, 4ª edição, Edições Paulinas, 1963

[4] Cf. Jo, 8, 21. Evangelho da terça-feira da 5 semana da Quaresma.